sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Olá colegas,
Uma boa dica para quem não quer perder tempo no ônibus. Audiobooks que podem ser baixados no celular. Não dispensam a leitura da obra, é um reforço.

Crítica da Razão Pura - KANT - audiobook.

Abraços.

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domingo, 20 de setembro de 2009

O eu, o outro e a inveja



A fim de incentivar a exploração de uma perspectiva da crítica literária que tanto interessa ao nosso grupo, tentarei tecer algumas considerações sobre o belo poema de Neruda, recitado e postado por Rosângela. Pode-se dizer que o narrador (a "voz" ou o "eu") do poema expressa, em relação a certo "camarada", um rico complexo de vivências, que vai do sentimento de inveja ao de extremo abandono, passando por um tortuoso caminho de auto-conhecimento. Sugiro que sigamos rapidamente algumas linhas de suas quatro densas estrofes. 1) Na primeira estrofe, conta o narrador que um camarada seu - 'camarada' é sempre um companheiro ou amigo - "voltou" a dar-lhe a "velha inveja", que ele identifica ao "peso" de sua própria "substância intransferível". A inveja aparece como "dada" pelo outro a alguém que, passivamente, a sente. 2) No início da segunda estrofe, as frases "assaltei-te a mim, assalta-me a ti" apresentam um rico jogo de inversões entre sujeito e objeto, e entre passivo e ativo, no entrecruzado movimento de um "frio punhal" que "dessangra", ao evidenciar a "insuficiência" e a mudança enviesada de si "pelo outros". Contrução heterônoma de si - "queres construir-te com aquilo que queres e não és" - pois o que se quer está fora de si mesmo. 3) Na mais longa estrofe, a terceira, o camarada é o "antigo de rosto", ao qual se liga certos sinais dos tempos: vestígios, cinzas, cicatrizes, velhos olhos, mãos enrugadas e velhas. Mas também ao qual se vinculam qualidades de "guerreiro", os verdadeiros objetos do desejo: a "segurança independente" e a "espada do orgulho". O narrador confessa querer o que ele não é, sugerindo que o "pior" de si - que segue sempre lhe habitando - é precisamente o que ele é. 4) Mas, o "camarada" esteve somente de passagem: bebeu, falou, e se foi, levando aquilo que o eu que narra queria ser. Os últimos versos sugerem que "talvez" o "outro" tenha ido também melancólico, caso aconteça que ele queira, por seu turno, ser o eu que agora fica - o que equivale a estender ao outro o próprio sentimento de inveja. Se tais análises se sustentam, pode-se rematar dizendo que se trata de um poema que tematiza o desencontro humano que nasce com a inveja. Tomás de Aquino disse que a inveja é a tristeza em relação às coisas boas dos outros. E Espinosa considerava a inveja como a pior de todas as paixões. O poema de Neruda expressa um profundo desencontro do eu consigo mesmo e com o outro, mesmo que se tratando de antigos camaradas. Salta do poema, uma condição paradoxal do querer humano. Algo como uns "olhos miseráveis" que teimam em não querer a si próprio e, com isso, também não querer ao outro como o diferente de si. Pois o outro, como uma espécie de prolongamento negativo, não passa da representação do que faz falta a si. Tem-se uma "substância intransferível" e, ao mesmo tempo, o desejo de uma impossível transferência. Ora, se querer o que o outro é, para si, for o mesmo que não querer a si, nem ao outro, então, vive-se no regime de uma vontade agudamente infeliz, onde a inveja se revela, afinal, como o oposto do amor - de si e do outro. Sílvia Faustino.

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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O outro



Ontem meu camarada
nervoso, insigne, íntegro,
voltou-me a dar a velha inveja, o peso
de minha própria substância intransferível.

Assaltei-te a mim, assalta-me
a ti, este frio de punhal
quando te mudaria pelos outros,
quando tua insuficiência se dessangra
dentro de ti como uma veia aberta
e queres construir-te mais uma vez
com aquilo que queres e não és.

Meu camarada, antigo
de rosto como vestígio de vulcão,
cinzas, cicatrizes
junto aos velhos olhos candentes:
(lâmpadas de seu próprio subterrâneo),
enrugadas as mãos
que acariciarão o fulgor do mundo
e uma segurança independente,
a espada do orgulho
nessas velhas mãos de guerreiro.
Talvez seja isso o que eu queria
como destino, aquele
que não sou eu, porque
constantemente mudamos de sol,
de casa, de país, de chuva, de ares
de livro e traje,
e o pior de mim segue me habitando,
continuo com aquilo que sou até a morte?

Meu camarada, então,
bebeu em minha mesa, falou, quiçá, ou teve
alguma de suas dúvidas
duras como relâmpagos
e se foi aos seus deveres, a sua casa,
levando aquilo que eu quis ser
e talvez melancólico
por não ser eu, por não ter os meus olhos,
meus olhos miseráveis.



Poesia extraída do livro: Defeitos Escolhidos & 2000
Autor: Pablo Neruda
Páginas: 17 e 19
Editora: L&PM

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Elogio

Antes de tudo o elogio. Só a Profª Silvia para trazer essa novidade do interlúdio poético ao final dos encontros. Parabéns, profª, grande idéia! Já que falamos em estética e em literatura, seguem algumas linhas, que encontrei na internet, para compartilhar com os colegas(http://almaacreana.blogspot.com/2009/06/richard-rorty-filosofo-da-cultura.html):

“(...) Por sua vez, a literatura tem desempenhado um papel imprescindível para a reflexão moral. Para Rorty, a literatura, e não a filosofia é a única capaz de promover a verdadeira noção de solidariedade humana, pois as palavras de romancistas como George Orwell e Vladimir Nabokov foram mais eficazes na tentativa de nos sensibilizar diante da crueldade que as indagações de inúmeros filósofos. Ele afirma que narrativas dramáticas podem muito bem ser essenciais para a escrita da história intelectual. Em vez do filósofo, Rorty pensa no romancista como aquele capaz de nos sensibilizar para os casos de crueldade e humilhação que muitas vezes não percebemos.”

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Poema do Pessoa







Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente, fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo o correr do rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbulo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio.
Pagã triste e com flores no regaço.

(12/06/1914)

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domingo, 23 de agosto de 2009

Tentando responder a Djalma

O que significaria ver Kant como um "Hume prussiano"? Penso que "Hume" designa, sem maiores problemas, "empirismo", no sentido epistemológico clássico e lockeano da palavra: uma concepção de que o conhecimento humano começa (e se fundamenta) na experiência sensível. Mas, o que designaria "prussiano"? O antigo Reino da Prússia, situado no extremo leste alemão, se encontra, hoje, dividido entre a Polônia, a Lituânia e a Rússia. A cidade de Königsberg, onde Kant nasceu, viveu e morreu, é a atual Kaliningrado, uma cidade da Rússia. Pode ser que "prussiano" designe "linha dura" de certo "protestantismo prussiano", no qual Kant foi educado... Mas, neste sentido, Kant seria um "empirista prostestante de linha dura"? Enfim, como não consigo imaginar um "prussiano prostestante" defendendo a força das sensações e dos sentidos, um "Hume prussiano" afigura-se-me assim como uma espécie de oxímoro (rs rs). Quanto a ser Kant um idealista no sentido berkeleyano da palavra, não fica mais fácil explicar. O idealismo de Berkeley, elogiado por Schopenhauer (com a forte tese do véu de Maya, já comentado neste blog) consiste, grossíssimo modo, na defesa do slogan "esse is percipi", ou seja "ser é ser percebido". Pois bem: para Kant também, senão o "ser" (já que ele é crítico da ontologia), pelo menos os "fenômenos" (contrapostos à coisa em si) são sempre "percebidos". Ocorre que a percepção, para Kant, é entendida como uma "sensibilidade transcendental", cujas formas puras são o espaço e o tempo, que são as formas da sensibilidade humana. E, para Berkeley, Deus também (ou, principalmente) percebe. Para Berkeley, o que é perceptível inclui o que percebemos e o que Deus percebe. E nisso, Kant não segue Berkeley, pois, para Kant, a intuição sensível é humana, somente humana, embora não "demasiado humana", como diria Nietzsche. Sílvia Faustino.

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sexta-feira, 21 de agosto de 2009


Na leitura do prefácio da Crítica da Razão Pura, surgiu-me uma curiosidade que persiste. Diz o texto que, com a obra, Kant foi apontado por alguns como "Hume prussiano". Também que, "depois das recensões de Grave e de Feder, a doutrina na Crítica da Razão Pura [foi] identificada com o idealismo subjetivo de Berkeley". Acho que seria interessante saber os pormenores dessas comparações. (3ª página do prefácio)

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