domingo, 23 de agosto de 2009

Tentando responder a Djalma

O que significaria ver Kant como um "Hume prussiano"? Penso que "Hume" designa, sem maiores problemas, "empirismo", no sentido epistemológico clássico e lockeano da palavra: uma concepção de que o conhecimento humano começa (e se fundamenta) na experiência sensível. Mas, o que designaria "prussiano"? O antigo Reino da Prússia, situado no extremo leste alemão, se encontra, hoje, dividido entre a Polônia, a Lituânia e a Rússia. A cidade de Königsberg, onde Kant nasceu, viveu e morreu, é a atual Kaliningrado, uma cidade da Rússia. Pode ser que "prussiano" designe "linha dura" de certo "protestantismo prussiano", no qual Kant foi educado... Mas, neste sentido, Kant seria um "empirista prostestante de linha dura"? Enfim, como não consigo imaginar um "prussiano prostestante" defendendo a força das sensações e dos sentidos, um "Hume prussiano" afigura-se-me assim como uma espécie de oxímoro (rs rs). Quanto a ser Kant um idealista no sentido berkeleyano da palavra, não fica mais fácil explicar. O idealismo de Berkeley, elogiado por Schopenhauer (com a forte tese do véu de Maya, já comentado neste blog) consiste, grossíssimo modo, na defesa do slogan "esse is percipi", ou seja "ser é ser percebido". Pois bem: para Kant também, senão o "ser" (já que ele é crítico da ontologia), pelo menos os "fenômenos" (contrapostos à coisa em si) são sempre "percebidos". Ocorre que a percepção, para Kant, é entendida como uma "sensibilidade transcendental", cujas formas puras são o espaço e o tempo, que são as formas da sensibilidade humana. E, para Berkeley, Deus também (ou, principalmente) percebe. Para Berkeley, o que é perceptível inclui o que percebemos e o que Deus percebe. E nisso, Kant não segue Berkeley, pois, para Kant, a intuição sensível é humana, somente humana, embora não "demasiado humana", como diria Nietzsche. Sílvia Faustino.

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