domingo, 19 de abril de 2009

Rousseau: ética, estética e política na retórica

Caros Alunos,
O seminário de Aroldo foi o primeiro de uma série que marcará a história de nosso GEP. Eu vou retomar alguns pontos essenciais. Creio que no Brasil, o Ensaio sobre a Origem das Línguas não pode mais ser lido sem a séria consideração da interpretação de Bento Prado Jr. sobre o texto. Como disse Aroldo, o ensaio de Bento vai muito além de um texto "introdutório": sua interpretação de Rousseau é original também no sentido em que ela mesma reflete suas próprias concepções acerca da linguagem. Levando isso em consideração, uma primeira tarefa se impõe: é preciso separar o que Rousseau diz em seu ensaio daquilo que Bento Prado Jr. diz em seu ensaio sobre o ensaio de Rousseau. Sou leitora dos dois ensaios e posso garantir que isso é muito difícil! Depois de ler o ensaio do Bento, nunca mais se lê o de Rousseau da mesma forma. Mas essa dificuldade pode dar um movimento interessante à pesquisa. Segunda observação: a concepção de que "a palavra" é "a primeira instituição social" eleva o Ensaio sobre a Origem das Línguas como peça argumentativa essencial para as teorias antropológicas e políticas de Rousseau, o que retira a obra do lugar periférico que lhe concedem certas leituras tradicionais do pensamento dele (que é o que defende Bento). Se a questão das línguas é uma questão da sedimentação dos significados das palavras e dos gestos humanos, nunca esse opúsculo foi tão atual (a nota 101 de Bento, na p. 105 do livro, aproxima a concepção retórica de Rousseau à concepção wittgensteiniana de gramática). Última observação: a oposição entre fala e escrita ganha sentido mediante a oposição entre sentimentos e ídéias. A escrita que Rousseau critica seria aquela que é incapaz de veicular sentimentos. Assim, temos de ver em que medida essa estética (com sentimento) da linguagem, que Rousseau defende, significa uma recusa de certa estética (sem sentimento) da linguagem. E em que medida a estética da linguagem incorpora uma ética e uma política em seus significados. Mas, agora me dei conta: o que estou (eu mesma) chamando de "estética" da linguagem? Agora, de bate-pronto, não sei. Alguém tem alguma idéia?

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