Querida Rosângela! Por ter reconhecido as raízes hindus em seu pensamento, Schopenhauer se distancia (de maneira salutar, a meu ver) daquele estilo de filósofo que descuida ou despreza o lado místico da racionalidade humana. Reconhecer os ensinamentos dos "Upanishades" ao lado dos de Kant significa, por outro lado, que a herança kantiana deve ser compartilhada com os pricípios da filosofia hindu - algo que muitos afirmam, mas poucos aprofundam. Depois de ler a sua postagem, me parece claro que a apropriação conceitual que Schopenhauer faz do idealismo transcendental kantiano, tão visível no pensamento do "mundo como representação", precisa ser investigada levando sempre isso em conta. A própria noção de representação talvez não possa ser desvinculada, de maneira rigorosa, da noção de "ilusão" - proveniente da analogia com o "véu de Maya" - e da consideração dessa "causa" externa ao seu domínio. Pareceu-me muito pertinente esse traço do niilismo schopenhaueriano: o fato de não ser cristão não implica que ele não tenha, a seu modo, assumido e incorporado um lado místico. Agora, um problema interessante talvez seja o de investigar até que ponto um filósofo do ocidente consegue converter em "conceito", elementos culturais tão desconhecidos por nós como, por exemplo, os "mantras". Esses elementos da filosofia (ou religião?) hindu têm certos poderes que extrapolam a nossa maneira de trabalhar conceitos. Entraríamos, aí, num campo fascinante de discussão, que trataria de como a filosofia ocidental, que se auto-define como uma investigação de conceitos, pode incorporar o oriente e seus ensinamentos, sem perder a sua "aura" propriamente mística.
Grande abraço, Sílvia Faustino.
Grande abraço, Sílvia Faustino.