sexta-feira, 17 de julho de 2009

POR QUE NARRADOR PÓS-MODERNO?
Ensaio
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http://www.4shared.com/file/118848180/29a716d7/por_que_narrador_ps_moderno.html

Autor: Djalma Jacobina Neto
Julho 2009


Para Walter Benjamin[1] o ato de narrar está em vias de extinção. Para ele, são cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente. Isso se dá, segundo o pensador, pela crescente dificuldade de intercambiar experiências: “as ações da experiência estão em baixa e tudo indica que continuarão caindo até que seu valor desapareça de todo”. Disso resulta que “a sabedoria – lado épico da verdade – está em extinção”.
Ainda para Benjamin, o surgimento do romance, no início do período moderno, é o primeiro indício da decadência pretendida. Sua origem é o indivíduo isolado, que não recebe mais conselhos nem sabe dá-los. Não há aí a menor centelha de sabedoria. Uma das razões disso é que ele está essencialmente ligado ao livro, ou seja, à palavra escrita. O romance, portanto, nem procede da tradição oral nem a alimenta, o que o faz diferir, em essência, do narrador, que retira de sua experiência o que conta: “sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes”[2].
No tocante à informação, o autor mostra que a situação é ainda mais extrema. Pois que, também, estranha à narrativa, provoca crise até mesmo no romance. Na informação não há a imersão dos fatos em quem conta, para que seja recontado com a coloração da experiência pessoal. Também não há a preocupação com valores perenes. O contado tem valor mais imediato. Nela não há o surpreendente - como deve ocorrer na narrativa -, os fatos já chegam explicados.
Esclarece o autor que uma das razões da tamanha disparidade entre os estilos, do que decorre a decadência em comento, é que “metade da arte narrativa está em evitar explicações”. Há ainda outros fatores, como a necessidade contemporânea de tudo abreviar; o enfraquecimento da idéia de eternidade; a perda da força evocativa da morte.
Ainda mais, Benjamin vê na reminiscência o fundamento da cadeia da tradição que transmite os acontecimentos de geração em geração. Ela “tece a rede que em última instância todas as histórias constituem entre si”[3]. A memória se apresenta, assim, como a musa da narrativa; como a rememoração diz respeito ao romance “depois que a desagregação da poesia épica apagou a unidade de sua origem comum na reminiscência”[4]. Há diferenças substanciais entre as duas. A musa do narrador é breve, consagrada a um herói, uma batalha; a do romance dedica-se a muitos fatos difusos.
Por fim, o romance é centrado na busca de um “sentido da vida”; enquanto que a narrativa épica lastreia-se na “moral da história” [5].
Com base nessas colocações, Silviano Santiago escreveu sobre o narrador pós-moderno. Em seu texto, ele não se restringe à proposta de Walter Benjamin de aplicar o conceito de narrador a apenas uma situação. Para ele, há três tipos que representam estágios evolutivos[6]. De início, o clássico, para o qual há a necessidade de intercâmbio de experiências; segundo, o narrador de romance que não fala de forma exemplar; e, por fim, o narrador jornalista que transmite a informação e não narra a própria experiência.
É com base nesse apanhado que Silviano apresenta um quarto tipo, o narrador pós-moderno, protagonista de seu texto. Este, diferentemente do clássico, transmite uma “sabedoria” decorrente da observação de uma vivência alheia. A autenticidade, nesse caso, não provém da vivência do ocorrido, mas da verossimilhança, calcada na lógica interna do relato. O narrador pós-moderno de Santiago se aproxima, assim, do que ele tem por narrador jornalista.
A tese que sustenta Silviano é que a forma pós-moderna de narrar é encarada por outra perspectiva. É como se o narrador dissesse: “deixai-me olhar para que você, leitor, também possa ver”[7]. O que se valoriza, aí, é o olhar. A experiência é de pouca valia. Donde conclui que “a ação pós-moderna é jovem, inexperiente, exclusiva, privada de palavra”[8]. O narrador sabe que tem a palavra onde ninguém mais a tem, todavia, sabe também que sua palavra não tem mais utilidade, daí o foco do olhar e da palavra sobre aqueles que não a tem.
Assim, o narrador pós-moderno observa para contar o que vê sem se preocupar em dar conselhos. Silviano expõe a incomunicabilidade de experiências entre gerações, o que traz a “impossibilidade da continuidade linear ao processo de aprimoramento do homem e da sociedade”[9].
Diante disso, a narrativa se volta para falar da pobreza de experiência e também da impropriedade da palavra escrita como processo de comunicação.
Nesse contexto, Silviano coloca a pergunta: por que se olha?[10] Ao que responde, baseado em Nathalie Sarraute, que se olha da mesma forma que a planta se volta para o Sol no fototropismo. Segundo ele, o Sol é mais jovem, a planta mais experiente. Adiante, acrescenta que em termos apocalípticos olha-se para se dar razão e finalidade à vida. Mas será que é só isso? A rigor não é nem isso. Transposto para a experiência humana a imagem há de ser invertida; o Sol é representado pelo mais jovem, que irradia calor, transmite energia e tonifica a velha planta. Não há, portanto, evidência para a razão e finalidade do olhar. O narrador olha, o personagem é olhado, assim discorre o conto analisado por Silviano, “mas ficam como enigma a razão e a finalidade desse olhar”[11].
A ficção de Edilberto é desenvolvida em cima desse mistério, é o que afirma Silviano. Mas não é nessa direção que queremos apresentar nosso raciocínio. O que tentamos como proposta de trabalho é uma breve análise da razão dessa guindada do foco narrativo, que parte do narrador clássico e faz um percurso, segundo Silviano, evolutivo, passando pelo narrador do romance até chegar ao pós-moderno, sob a ótica da concepção do sujeito.
Para chegarmos a um bom termo neste trabalho é necessário que façamos uma retrospectiva de alguns aspectos do narrador clássico, de Walter Benjamin. Nele há a narrativa a partir da ação e da memória. Ou seja, o narrador se apropria do que conhece da tradição e mescla esse conhecimento com sua própria experiência. Nesse momento, fala-se de autenticidade. Conta-se o que se viveu para se atualizar a sabedoria e produzir bons conselhos de vida.
Na hipótese do narrador pós-moderno, de Silviano Santiago, o que é valorizado é o olhar para o outro. Olha-se para quem não sabe narrar; para o jovem que vive o momento, e se aprecia o seu viver, sem a pretensão de aconselhar.
Se não podemos negar que as diferenças entre os dois conceitos extremos saltam aos olhos; também,não podemos deixar de observar que entre os dois há um importante ponto de convergência. Em ambos existe alguém olhando com o intuito de narrar, ainda que, como visto, essas narrativas tenham objetivos diferentes.
Nesse ponto, essa primeira análise abre um caminho luminoso para a questão que buscamos elucidar, que é a busca de uma explicação para a mudança do foco do olhar. A partir da primeira convergência chegamos à segunda. Devemos observar que em ambos os casos esse “alguém” que olha, mira, sempre, seu olhar em outro “alguém”. Ou seja, nas duas pontas há sujeitos. O primeiro é sempre o narrador; o segundo é sempre o narrado. Quando seu olhar se volta para suas próprias ações imersas na tradição, surge o narrador clássico, sábio, conselheiro; de modo diverso, quando a mirada é para um “outro” alguém, e não há a pretensão do conselho, fala-se no narrador pós-moderno.
No meio desse trajeto, há o narrador do romance que, como propõe Silviano Santiago, é aquele que se pretende isento sem sê-lo. É o solitário, que busca, com a narrativa, não a lição de moral, mas o sentido da vida. Nesse caso, seu olhar não consegue se libertar totalmente do ego forte. Ele se dirige para a personagem criada que, como coloca Silviano, não foge muito à situação primeira. Trata-se, portanto, de um meio termo entre o narrador clássico e o pós-moderno. Voltemos, então, às extremidades.
Neste momento, já podemos destacar elementos importantes em ambas as narrativas para nossa análise. Há “o sujeito que olha”, “o olhar”, “o outro que é olhado”, e “o objetivo do olhar”. “O sujeito que olha” é o narrador; “o outro” pode tanto ser o próprio narrador - imiscuído na tradição -, ou um terceiro; “o objetivo do olhar” tanto pode ser para atualização da tradição e produção de conselhos, ou para o mero deleite ou curiosidade. As variações, como visto, vão definir um tipo ou outro de narrador, como quer Silviano.
No trajeto em busca do deslinde de nossa questão, surge outra pergunta de fundamental importância para nosso desiderato: qual é o vínculo da narrativa com o narrador? A resposta a essa pergunta talvez nos esclareça qual é o interesse do indivíduo pelo que narra. Para Evelina Hoisel[12] a estrutura de uma obra é sempre a vida grafada. Citando Valéry ela afirma “o caráter eminentemente biográfico de qualquer objeto de conhecimento artístico ou científico”. E prossegue na citação: “na verdade, não existe teoria que não seja um fragmento cuidadosamente preparado de alguma autobiografia”[13]. Em vista disso, podemos acrescentar que o que se narra é, de alguma forma, a própria vida. E numa interpretação mais extensiva talvez se possa dizer que o narrador narra para, de alguma maneira, falar de si, tentar se encontrar, se conceber, como indivíduo em determinado contexto e lugar, sendo esse, ao que tudo indica, seu interesse.
Uma vez colocada a natureza do vínculo da narrativa com o narrador, que é a busca auto-concepção como indivíduo, chegamos a uma primeira pista para resolver nossa questão. A variação da qualidade da narrativa pode estar ligada à variação da concepção da identidade do sujeito ao longo da história. Vamos tentar prosseguir nesse caminho.
A noção do indivíduo, antes da modernidade, estava lastreada em apoios estáveis, em tradições e estruturas sociais rígidas. O “eterno” subsidiava o que não se entendia e dava estabilidade ao mundo. A soberania da pessoa era subalterna ao cosmos e moldada pelos arquétipos morais assentes.
Depois do humanismo renascentista do séc. XVI, que colocou o homem no centro do universo, até o iluminismo do séc. XVII, emergiu o indivíduo soberano sob a égide do logos. Houve aí uma importante ruptura com o passado.
Obviamente que a estrutura desse indivíduo não se formou de forma abrupta nem apresentou etapas estanques. O indivíduo moderno emergiu tendo como elemento centrador o cogito de Descartes. A partir dessa época, ele se libertou da medida da Igreja Católica com o protestantismo, e conquistou uma relação mais direta com Deus; decifrou mistérios da natureza com a ciência; cresceu com o iluminismo; fundou o estado liberal; voltou-se para o coletivo com as idéias socializantes.
Nessa oportunidade, o sujeito ainda era centrado, mas não mais ligado a um cosmos estruturante que tudo explicava pela fé e pela tradição. O logos dava estabilidade à vida. A ciência positiva ditava as normas. A filosofia iluminista elaborava argumentos de legitimação do Estado burguês.
Mas todo esse fervilhar de mudanças prosseguiu, e com ele a identidade do indivíduo. A sociologia trouxe críticas ao individualismo cartesiano. Surgiu a concepção alternativa da formação do indivíduo por meio de sua participação em relações sociais mais amplas. Ficou mais clara a forma de sustentação dos processos e estruturas sociais a partir do status quo. Houve, com isso, uma externalização do interior do indivíduo, e uma interiorização do exterior.
Este modelo sociológico foi produto do início do século XX. Pouco depois, tiveram inicio cinco grandes avanços na teoria social que foram fundamentais para o descentramento do sujeito cartesiano; foram elas: o marxismo em sua reinterpretação nos anos 60; a descoberta do inconsciente freudiano; Ferdinand Saussure com sua dicotomia entre língua e fala; a produção da “genealogia” do sujeito moderno por Foucault; o feminismo como crítica teórica e movimento social. Tudo isso, aliado às inovações tecnológicas, ao avanço do capitalismo selvagem com a supervalorização do consumo, aos meios de comunicação de massa, internet, celular, globalização de mercados - que levou ao enfraquecimento de fronteiras nacionais, formaram o berço do que se entende hoje por pós-modernismo. Essas mudanças tiveram o condão de fragmentar o sujeito, tirá-lo de suas certezas e acabar com sua unicidade “estável”.
Com base nessa contextualização, já se torna possível delinear um entendimento para a questão da explicação sobre a variação na forma de narrar.
Nos primórdios, calcado na estabilidade do Cosmos, o indivíduo ainda era muito submisso à tradição, às estruturas sociais rígidas. Devido a essa falta de soberania, ainda não se podia falar em “sujeito” como seria entendido mais tarde. Era o ambiente propício para um narrar atemporal, épico, arquetípico, que pregava a troca de experiência dos mais velhos, o reviver da tradição. Era o momento do narrador clássico que narrava para manter a tradição e dar conselhos ao “bom viver”.
O cogito cartesiano veio trazer outro paradigma ao indivíduo. O humanismo renascentista deslocou o foco do pensamento do cosmos para o logos. O homem passou a ser o centro do universo. Ascendeu a burguesia. A religião enfrentou crises. Surgiu o iluminismo com suas teses. O indivíduo foi “assujeitado” em um locus social e ganhou novas feições. O romance burguês ganhou força e, com ele e todo esse contexto, emergiu o narrador do romance. O sujeito, entretanto, persistiu centrado, agora, no cartesianismo.
Mas o pensamento continuou em sua efervescência e, com ele, seguiu a manifestação do indivíduo. As ciências sociais trouxeram sua contribuição. Paradigmas importantes fora suplantados. O capitalismo venceu seus opositores e expandiu o consumo de forma globalizada e avassaladora. A tecnologia da informacção e o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa incrementaram a interação entre os povos; romperam-se fronteiras físicas e humanas antes inexpugnáveis. Dentro desse caldeirão borbulhante o sujeito se esfacelou. Perdeu seu centramento cartesiano. Valores destinados à produção, à ordem, passaram a ser questionados. Surgiu a idéia da polifonia do discurso. Passou-se a entender que não era o “eu” que dava sentido ao falar, como se entendia desde época do narrador clássico até a do romance. Surgiu o entendimento de que o sentido dependia do espaço interdiscussivo; ou seja, não só do “mesmo”, mas também do “outro”. O narrador teve, mais uma vez, de mudar de posição para buscar sua identidade em seu novo contexto. Voltou-se, assim, para o olhar do outro para se encontrar.
O outro aspecto referido à narrativa pós-moderna - o desinteresse pelo passado e pelo conselho -, decorre do próprio contexto libertário da pós-modernidade. Com o entendimento trazido pelas ciências sociais, do papel do indivíduo “assujeitado” para a manutenção de estruturas sociais injustas e pouco atraentes, o jogo tradicional passou a ficar desestimulante. Também, as “maravilhas” da contemporaneidade, bem representadas pelos cenários dos modernos shoppings, os sofisticados “vídeo-games” e toda o resto da parafernália tecnológica atual estruturam uma vida-espetáculo que ofuscam qualquer interesse pelo passado e pela experiência. Esses dois fatores trazem uma prática de vida que valoriza o carpe diem, ou seja, o viver o momento.

BIBLIOGRAFIA:
AMARAL, Sayonara. João Gilberto Noll: Narrativa pó-Moderna, Corpos pós-humanos. Disponível em : http://www.joaogilbertonoll.com.br/noll1.pdf.%20Acesso%20em%2030/05/2009.
BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985.
BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. 2ª ed. Rev. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004
FRANCO, Jefferson L. O lado Épico da Mentira. In: Crítica e alguma Teoria.Disponível em: www.scribd.com/doc/2599953/Critica-e-Alguma-Teoria. Acesso em 30/05/2009.
HOISEL, E. C. S. . Literatura e biografia: a trama das relações. In: Grande sertão:veredas - uma escritura biográfica. Salvador: Assembléia Legislativa do Estado da Bahia; Academia de Letras da Bahia, 2006. v. 1. 218 p.21-54.
LOPES, Silvana Mendonça. A identidade cultural na pós-modernidade. Webartigos.com. Disponível em:
http://www.webartigos.com/articles/12441/1/identidade-cultural-na-pos-modernidade/pagina1.html. Acesso em 17/06/2009.
SANTIAGO, Silviano. O narrador pó-moderno. In: Nas malhas da letra. São Paulo: Companhia das Letras, s/d.
SANTOS, Jair Ferreira. O que é pós-modernismo. São Paulo: Brasiliense, 1987.
ANÔNIMO. A Página da Educação. Auto-determinação do Sujeito Pós-moderno. Disponível em http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=4529. Acesso em 30/05/2009.

[1]BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov.p. 197.
[2] Idem. P. 201
[3] Ibidem. P.211.
[4] Ibidem. P. 211.
[5] Ibidem. P. 212.
[6] SANTIAGO, Silviano. O narrador pó-moderno.P.45.
[7] Idem. P. 52.
[8] Ibidem. P. 53.
[9] Ibidem. P. 54.
[10] Ibidem. P. 57.
[11] Ibidem. P. 57.
[12] HOISEL, E. C. S. . Literatura e biografia: a trama das relações., P.54.
[13] Idem. P.54.

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Schopenhauer e os Upanishades

Diz Schopenhauer: “No desenvolvimento de minha filosofia, os conceitos de Kant, tanto quanto os livros sagrados dos hindus e Platão, foram, depois do espetáculo vivo da natureza, meus mais preciosos inspiradores” (f. moral pág. 53). Através da leitura dos Upanixades, Schopenhauer teve o contato com escritos hindus que o ajudou a deduzir que estava no caminho certo com sua filosofia já que estes foram escritos há mais de cinco mil anos e seguiam na mesma direção que ele.
O Sânscrito é uma língua da índia de onde é derivado o termo Upanixade ou Upanichád upa – perto, ni – embaixo, chad – sentar; o que remete ao ato de sentar-se no chão para receber instruções, como por exemplo, de um mestre espiritual. Os Upanixades são parte das escrituras Shruti hindus que tratam também de meditação e de filosofia consideradas como instruções religiosas. Ele traz extensão dos quatro Vedas, Rigveda, Yajurceda, Samaveda e Atharvaveda. Contudo não a informação de quem e quando foram escritos.
Vedas são os quatro textos acima citados, escrito em sânscrito em torno de 1500 a.C que formam a base das escrituras sagradas do hinduísmo. Significa conhecimento, e consistem em variados tipos de textos conhecidos como mantra.
Schopenhauer encontrou ideias que vieram concordar com as suas teorias, unindo o ocidente e esses pensamentos antigos. Os conceitos orientais Maya, “Tat tvam asi” e trimurti demarcam os conceitos de representação, compaixão e Vontade de vida. A teoria da deusa Maya aproxima-se da teoria da representação de Schopenhauer isto porque a causa da representação não residir nela mesma. Se assim o fosse os homens estariam iludidos por Maya; a divindade Maya tem as características da criação e da ilusão, o que a faz parecer contarditória. Para melhor compreendê-la é preciso um conhecimento profundo da doutrina hindu. O véu de Maya se aproxima da ilusão, é sob esse aspecto/significado que Schopenhauer a concebe em sua obra principal.

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segunda-feira, 25 de maio de 2009

A gramática da persuasão - palestra dia 29/05/09

Prezados Alunos!

Convido a todos para uma palestra que apresentarei em nossa reunião da próxima sexta-feira. Trata-se de um trabalho que já apresentei sobre a Retórica, de Aristóteles. O aluno que estava programado não irá na reunião e eu aproveitarei a oportunidade para compartilhar com o nosso GEP os meus interesses nessa obra, que foi polemicamente revisitada no século XX. Estou chegando de viagem, por isso deixei de fazer postagens sobre os trabalhos apresentados de Ana e Djalma. Mas prometo voltar à tona, assim que me for possível. Abraço a todos!! Sílvia Faustino.

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segunda-feira, 11 de maio de 2009


CONVITE
Convidamos os integrantes do grupo, e interessados externos que queiram participar, para assistir à apresentação abaixo, a se realizar na próxima sexta-feira, dia 15/05/2009, às 14h, na sala do Mestado em filosofia - São Lázaro - Federação - Salvador-Ba. Os não participantes que queiram assistir devem entrar em contato com o grupo para confirmação de vaga.


Mediador- Djalma J. Neto
Coordenador - Profª Silvia Faustino

APRESENTAÇÃO DA PRÓXIMA SEXTA DIA 15/05/2009

“Uma introdução à análise do discurso”

Quando estudaremos:

1. Estudo da linguagem -> Sassure -> dictomia língua e fala -> exclusão da fala.
2. Orientação lingüística mais recente -> Bakhtin -> língua como fato social (=Saussure)
->Língua como algo concreto fruto de manifestação individual

3. Linguística como parte do enunciado (outra parte é o contexto do enunciado).
->A interação verbal como verdade fundamental da linguagem.
->O interlocutor não é elemento passivo na constituição do significado
->A enunciação individual depende da interação social:
-> A importância do “outro” para o significado.

4. O contexto social na linguagem -> da elaboração mental à objetivação (enunciação).
->Adaptação ao contexto imediato e à interlocutores concretos.
->Conclusão: uma lingüística imanente não dá conta de seu objeto.

5. Necessidade de a lingüística encontrar o vínculo: linguagem X ideologia.

6. O ideológio no interstício entre a coisa representada e o signo que a representa.
Bakhtin -> Palavra como signo ideológico por excelência.
Lugar privilegiado para manifestação da ideologia.

7. Barthes -> Semiologia -> importância do caráter ideológico do signo.
->A ideologia não somente nos temas; também nas formas.

8. Discurso como nova instância da linguagem .
Discurso -> De composição lingüística e extralingüística.
->Pto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos lingüísticos.

Para isso abordaremos:

9. Esboço histórico da Análise do Discurso
10. Conceitos de Ideologia em Marx, Althusser, Ricoeur
11. Conceito do discurso em Foucault
12. Noção de sujeito

E se houver tempo:

13. Noção de interdiscussividade.
Bibliografia básica: "Introdução à Análise do Discurso". BRANDÃO, Helena H. N. Ed. UNICAMP.

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quinta-feira, 7 de maio de 2009

Divagações em Rousseau

Inicialmente, obrigado pelo privilégio de ter sido "cobaia" do nosso GEP. rsrsrs
Acredito que temas relevantes e centrais para o GEP podem ser explorados em Rousseau, especialmente na leitura feita pelo Bento Prado Jr. Sua abordagem da obra rousseauniana, sobretudo a partir do "Ensaio sobre a origem das línguas", percebe uma retórica bem particular, que traz em si aspectos da estética, da ética e da política costurados pela linguagem melódica e afetiva.
Falando diretamente à Ana, me vejo no mesmo barco de indagações como vc! A leitura de Rousseau tb é nova pra mim. Mas, tentando refletir sobre algumas de suas questões, acho que posso inferir o seguinte: 1) Não consigo perceber um "estatuto ontológico" ou uma "metafísica" da linguagem em Rousseau. É sempre bom lembrar que, para Rousseau, "a palavra é a primeira instituição social"; tem caráter político que denuncia a necessidade dos acordos para o viver em sociedade. Se linguagem e vida social se fundam juntas, esta linguagem não poderia ter estatuto ontológico nem ser uma metafísica; 2) Parece que a "significação da linguagem", para Rousseau, se dá no campo da afetividade, da moral. Com os aspectos retóricos da linguagem não se faz ciência, como na lógica, mas também não se deixa de "conhecer" o mundo quando se faz uso dessa linguagem moral/política. Porque, ao que parece, o mundo é político e para um mundo político a linguagem deve ser política/retórica, capaz de convencimento. O que não quer dizer que houve, da parte de Rousseau, um abandono dos aspectos lógico-gramaticais da linguagem em detrimento dos retórico-políticos. Na analogia que faz da linguagem com a música, comparando a escrita com a harmonia, Rousseau ressalta que este processo é natural. O aperfeiçoamento da linguagem (e da música) gera, simultaneamente, o empobrecimento de sua força original, cedendo lugar à violência das coisas.
Bem, acho que compliquei mais do que ajudei! rsrsr
Mas a ultima postagem da profª Silvia é muito esclarecedora. Vale a pena conferir.

Aroldo Mira

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Só se expressam paixões pelo uso de sinais (respondendo a Ana Olívia)

Diante das instigantes colocações de Ana Olívia, desejo dizer o seguinte. O problema acerca da "apreensão cognitiva" da linguagem, sobretudo se tal apreensão estiver ligada à "constituição ontológica do mundo" não é um problema formulado por Rousseau. Como sua reflexão sobre a origem das línguas não toma a linguagem como um instrumento de conhecimento do mundo factual ou fenomenal (que seria o conhecimento de objetos ou de fatos), nem a linguagem o interessa pelo seu estatuto epistemológico, nem o que ela expressa tem valor e densidade ontológicos. A linguagem não é uma representação do mundo, mas uma expressão das paixões, dos sentimentos, das vontades e desejos, enfim, da afetividade e das decisões humanas. E enquanto expressão da afetividade, ela vem a ser o elo próprio da comunicação intersubjetiva das vivências, o veículo privilegiado da exteriorização da vontade. Assim como o segundo Wittgenstein, Rousseau não nega o caráter interno, privado dos sentimentos: o que ambos afirmam (e, neste caso, o francês, antes do austríaco), é que são necessários sinais externos para a expressão e comunicação das vivências internas. No caso de Rousseau, a música, os sons, as palavras, a melodia são modos de manifestação da linguagem que conseguem expressar o que vem de dentro. Por outro lado, não é porque o campo da música e da sensibilidade ou afetividade envolve o que poderíamos chamar de "anímico", que o tratamento da expressão linguística é "metafísico" ou "mentalista". O tratamento é retórico. E, enquanto tal - já que a retórica é interdisciplinar desde os gregos - ele é, por um lado, estético (envolve espaço, tempo, cor, som, luz em todos os tons e semi-tons) e, por outro lado, ético e político, pois a dimensão afetiva da racionalidade humana é fundamental para a construção da vida intersubjetiva e social para pensadores como Rousseau. Nada disso é metafísico ou circunscrito a uma dimensão meramente psicológica. Lembremos que Bento sugeriu a ligação da concepção retórica da linguagem em Rousseau ao conceito de gramática do segundo Wittgenstein. Isso me leva a uma última observação. Está correto dizer que Rousseau recusa as regras lógicas ou gramaticais, desde que se entenda por "regras" aquelas normas específicas da lógica clássica, tais como aparecem nos manuais de lógica formal (portanto, não no sentido wittgensteiniano ou habermasiano de regras da racionalidade normativa). Todo filósofo que defende uma concepção retórica da linguagem é crítico de uma concepção essencialmente lógica da linguagem, e nisso se inclui o próprio Aristóteles, que inventou a lógica formal e a retórica, como uma disciplina à parte dos seus escritos estritamente lógicos. Mesmo em Aristóteles, o mais lógico dos filósofos da retórica, o uso retórico da linguagem envolve o logos (discurso), o ethos (o caráter) e o pathos (as paixões). Para terminar, quero dizer à querida Ana, que o que eu chamei de "estética da linguagem" - algo que doravante me interessa pesquisar - é algo que passa pela "virada linguística" que podemos operar em cima da estética kantiana: em vez de "só" espaço e tempo, incluamos também cores, sons, gestos, enfim todo e qualquer sinal que tenha significado. Pode ser anímico, pode ser volitivo, mas "mentalista", não. Espero que Aroldo concorde (pelo menos em parte) com o que eu disse aqui de Rousseau, e agradeço muito à Ana pelas boas questões que me deram a oportunidade de expressão. Um abraço a todos! E vida longa para nosso blog! (Sílvia Faustino)

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domingo, 19 de abril de 2009

Rousseau: ética, estética e política na retórica

Caros Alunos,
O seminário de Aroldo foi o primeiro de uma série que marcará a história de nosso GEP. Eu vou retomar alguns pontos essenciais. Creio que no Brasil, o Ensaio sobre a Origem das Línguas não pode mais ser lido sem a séria consideração da interpretação de Bento Prado Jr. sobre o texto. Como disse Aroldo, o ensaio de Bento vai muito além de um texto "introdutório": sua interpretação de Rousseau é original também no sentido em que ela mesma reflete suas próprias concepções acerca da linguagem. Levando isso em consideração, uma primeira tarefa se impõe: é preciso separar o que Rousseau diz em seu ensaio daquilo que Bento Prado Jr. diz em seu ensaio sobre o ensaio de Rousseau. Sou leitora dos dois ensaios e posso garantir que isso é muito difícil! Depois de ler o ensaio do Bento, nunca mais se lê o de Rousseau da mesma forma. Mas essa dificuldade pode dar um movimento interessante à pesquisa. Segunda observação: a concepção de que "a palavra" é "a primeira instituição social" eleva o Ensaio sobre a Origem das Línguas como peça argumentativa essencial para as teorias antropológicas e políticas de Rousseau, o que retira a obra do lugar periférico que lhe concedem certas leituras tradicionais do pensamento dele (que é o que defende Bento). Se a questão das línguas é uma questão da sedimentação dos significados das palavras e dos gestos humanos, nunca esse opúsculo foi tão atual (a nota 101 de Bento, na p. 105 do livro, aproxima a concepção retórica de Rousseau à concepção wittgensteiniana de gramática). Última observação: a oposição entre fala e escrita ganha sentido mediante a oposição entre sentimentos e ídéias. A escrita que Rousseau critica seria aquela que é incapaz de veicular sentimentos. Assim, temos de ver em que medida essa estética (com sentimento) da linguagem, que Rousseau defende, significa uma recusa de certa estética (sem sentimento) da linguagem. E em que medida a estética da linguagem incorpora uma ética e uma política em seus significados. Mas, agora me dei conta: o que estou (eu mesma) chamando de "estética" da linguagem? Agora, de bate-pronto, não sei. Alguém tem alguma idéia?

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